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ToggleOs direitos da personalidade sรฃo direitos essenciais ร proteรงรฃo da dignidade da pessoa humana.
Por isso, fala-se que os direitos da personalidade sรฃo expressรตes da clรกusula geral de tutela da pessoa humana.
Neste sentido, o enunciado 274 da IV jornada de Direito Civil, disciplinou que โos direitos da personalidade, regulados de maneira nรฃo-exaustiva pelo Cรณdigo Civil, sรฃo expressรตes da clรกusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1ยบ, inc. III, da Constituiรงรฃo (princรญpio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisรฃo entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a tรฉcnica da ponderaรงรฃoโ.
Para entender melhor o tema, veja o vรญdeo desenhado que elaboramos.
ร interessante observar que a valorizaรงรฃo da Dignidade da Pessoa Humana tem forte influรชncia do Neoconstitucionalismo.
Fala-se em eficรกcia irradiante da Dignidade da Pessoa Humana.
Esse tema, contudo, serรก explicado oportunamente no tรณpico especรญfico.
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Agora, vou iniciar os Direitos da Personalidade explicando quais sรฃo as caracterรญsticas dos direitos da personalidade.
Quais sรฃo as caracterรญsticas dos Direitos da Personalidade?
Vitalรญcio
Os direitos da personalidade sรฃo vitalรญcios, ou seja, acompanham a pessoa durante toda a vida.
Isso nรฃo significa que os direitos da personalidade possam acompanhรก-lo apรณs a morte.
A morte pรตe fim a personalidade jurรญdica (art. 6ยฐ do CC/02), motivo pelo qual o de cujus nรฃo รฉ sujeito de direitos.
Daรญ porque falamos que os direitos da personalidade NรO sรฃo perpรฉtuos, mas apenas vitalรญcios.
Absoluto
Na prรกtica, isso significa que o titular do direito poderรก exigir:
- Que o Estado e toda a comunidade o respeite;
- Que o Estado promova tais direitos.
O Estado e a coletividade, diante do direito da personalidade do indivรญduo, deve assumir postura de abstenรงรฃo/ tolerรขncia. Entretanto, o Estado nรฃo deve ficar inerte.
A postura de abstenรงรฃo do Estado ocorre para evitar a repressรฃo de tais direitos.
Em paralelo, รฉ tambรฉm funรงรฃo do Estado promover os direitos da personalidade, tais como o direito ร educaรงรฃo, ร saรบde, ร igualdade, dentre outros.
Por isso os direitos da personalidade sรฃo oponรญveis nรฃo apenas aos indivรญduos, mas tambรฉm ao Estado, que tem o dever de promovรช-los.
Ilimitado
ร preciso ter cuidado com o termo โilimitadoโ.
A leitura fria pode levar o operador do direito a falsa conclusรฃo de que os direitos da personalidade nรฃo tem limites.
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Direitos da Personalidade (Direito Civil) – Resumo Completo
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Isso รฉ um erro comum.
Em verdade, dos direitos da personalidade sรฃo ilimitados, pois apresentam-se de forma nรฃo exaustiva na legislaรงรฃo.
Por exemplo, o reconhecimento do estado de filiaรงรฃo รฉ um direito da personalidade.
Neste sentido, โo reconhecimento do estado de filiaรงรฃo configura direito personalรญssimo, indisponรญvel e imprescritรญvel, que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restriรงรฃo, contra os pais ou seus herdeirosโ. (STJ โ AREsp: 1179890 SC 2017/0252143-5, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Publicaรงรฃo: DJ 16/12/2019)
Inato
Inato pode ser compreendido como algo que pertence ao ser desde o seu nascimento.
Em paralelo, pode ser compreendido tambรฉm como algo que independe do prรณprio ordenamento jurรญdico.
O Direito admite as duas interpretaรงรตes, sendo a รบltima bastante defendida pelo jusnaturalismo.
ร justamente essa caracterรญstica (inato) que coloca os direitos da personalidade em posiรงรฃo รญmpar no รขmbito dos direitos privados.
Protegerem, desde o nascimento e independente do ordenamento, valores originรกrios da pessoa humana e, tambรฉm da pessoa jurรญdica, como a vida, a honra, a identidade, o segredo e a liberdade.
ร preciso observar que, em regra, os direitos da personalidade nascem junto a pessoa, contudo, excepcionalmente, podem ser adquiridos (e.g. direito autoral).
Neste particular, รฉ importante lembrar da discussรฃo em torno da teoria concepcionista moderada e demais teorias que discutem o inรญcio da personalidade jurรญdica.
Tambรฉm recomenda-se a leitura do artigo dedicado ao fim da personalidade jurรญdica.
Extrapatrimoniais
Os direitos da personalidade nรฃo comportam avaliaรงรฃo econรดmica.
Entretanto, alรฉm de poder postular para que cesse a ameaรงa (tutela inibitรณria), pode o ofendido postular pela reparaรงรฃo do dano moral (art. 5ยฐ, V, CF/88).
Esta reparaรงรฃo assume, inclusive, carรกter educativo (preventivo) diante do ofensor.
Imprescritรญveis
Falar pura e simplesmente que direitos da personalidade sรฃo imprescritรญveis รฉ fรกcilโฆ
Mas vocรช jรก parou para pensar o porquรช???
O Cรณdigo Civil esclarece que, violado o direito, nasce para o titular a pretensรฃo, a qual se extingue pela prescriรงรฃo (art. 189 do CC/02).
A pretensรฃo, por sua vez, pode ser compreendida como sendo o conteรบdo do direito de aรงรฃo.
A prescriรงรฃo รฉ, entรฃo, a perda do conteรบdo do direito de aรงรฃo.
Nรฃo รฉ, ao contrรกrio do que muitos defendem, a perda do direito de aรงรฃo, jรก que o direito de aรงรฃo รฉ direito fundamental e, portanto, imprescritรญvel (art. 5ยฐ, XXXV, CF/88)
Pois bemโฆ
Jรก falamos, no tรณpico anterior, que os direitos da personalidade sรฃo inatos.
Podemos, por isso, defender que nascem junto ao ser humano e compรตe sua prรณpria existรชncia.
Alรฉm disso, os direitos da personalidade sรฃo vitalรญcios, ou seja, acompanham o indivรญduo atรฉ a morte.
Por isso, nรฃo faz sentido falar em prescriรงรฃo dos direitos da personalidade.
Contudo, รฉ preciso tomar cuidado com alguns detalhesโฆ
Conforme esclareci no tรณpico anterior, o direito da personalidade nรฃo comporta avaliaรงรฃo patrimonial, muito embora seja possรญvel pedir, na justiรงa, reparaรงรฃo pelo dano moral.
Uma coisa, portanto, รฉ o pedido de reparaรงรฃo, ante a violaรงรฃo do direito da personalidade.
Outra, completamente diferente, รฉ o pedido de proteรงรฃo do direito da personalidade.
O pedido de reparaรงรฃo prescreve em 3 anos no Cรณdigo Civil (art. 206, ยง3ยฐ, V, CC/02) e em 5 anos no Cรณdigo de Defesa do Consumidor (art. 27 do CDC).
Todavia, o pedido que tem por objetivo a proteรงรฃo dou reconhecimento da ofensa ao direito da personalidade nรฃo prescreve.
Aliรกs, o STJ expressamente reconheceu que a pretensรฃo de reconhecimento de ofensa a direito da personalidade รฉ imprescritรญvel.
Intransmissรญveis e Irrenunciรกveis
Ao menos em tese, o que se pretende com essa caracterรญstica รฉ destacar que:
- Os direitos da personalidade nรฃo podem ser transmitidos em vida ou apรณs a morte;
- Os direitos da personalidade sรฃo irrenunciรกveis.
Entretanto, hรก uma sรฉrie de debates em torno do tema.
Em primeiro lugar, o prรณprio art. 11 do Cรณdigo Civil aponta, expressamente, que podem haver exceรงรตes na legislaรงรฃo:
Art. 11 do Cรณdigo Civil: Com exceรงรฃo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade sรฃo intransmissรญveis e irrenunciรกveis, nรฃo podendo o seu exercรญcio sofrer limitaรงรฃo voluntรกria.
Desde jรก, entรฃo, รฉ fรกcil perceber que nem todos os direitos da personalidade sรฃo irrenunciรกveis e intransmissรญveis.
Outro detalhe merece muita atenรงรฃoโฆ
O art. 11 do Cรณdigo Civil esclarece, na parte final, que os direitos da personalidade nรฃo podem sofrer limitaรงรฃo voluntรกria.
O tema foi objeto de profundo debate na doutrina e legislaรงรฃo.
No programa de televisรฃo denominado Big Brother, por exemplo, os participantes devem abrir mรฃo da sua liberdade.
Pois bemโฆ
Como harmonizar o art. 11 com essa situaรงรฃo (e outras semelhantesโฆ), considerando que, voluntariamente, os participantes optam por abrir mรฃo da liberdade.
Para resolver esse e outros debates, o enunciado 4 da I Jornada de Direito Civil do CJF esclareceu o seguinte: โo exercรญcio dos direitos da personalidade pode sofrer limitaรงรฃo voluntรกria, desde que nรฃo seja permanente nem geralโ.
Portanto, o exercรญcio do direito da personalidade pode ser limitado voluntariamente, desde que de forma parcial e temporรกria.
Relativamente Indisponรญvel
Como expliquei no tรณpico anterior, a intransmissibilidade e irrenunciabilidade sรฃo relativas, jรก que podem ser feitas de forma voluntรกria, desde que parcialmente e por prazo determinado, ou ainda, desde que previsto em lei.
Da mesma forma, a indisponibilidade tambรฉm รฉ relativa, jรก que nรฃo pode ser feita, em regra, de forma permanente e geral.
Evidente que hรก direitos indisponรญveis, como, por exemplo, a disposiรงรฃo do prรณprio corpo.
Outros, contudo, podem ser cedidos (e.g. direito autoral).
O que diz o Cรณdigo Civil sobre os Direitos da Personalidade?
O rol apresentado pelo Cรณdigo Civil รฉ exemplificativo (nรฃo-exaustivo).
Por exemplo, o reconhecimento do estado de filiaรงรฃo รฉ um direito da personalidade, embora nรฃo conste no rol.
Neste sentido, โo reconhecimento do estado de filiaรงรฃo configura direito personalรญssimo, indisponรญvel e imprescritรญvel, que pode ser exercitado, portanto, sem nenhuma restriรงรฃo, contra os pais ou seus herdeirosโ. (STJ โ AREsp: 1179890 SC 2017/0252143-5, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Publicaรงรฃo: DJ 16/12/2019)
Por isso, inclusive, falamos que os direitos da personalidade sรฃo ilimitados.
Alรฉm disso, via de regra, sรฃo intransmissรญveis e irrenunciรกveis.
ร muito importante observar que a prรณpria legislaรงรฃo esclarece que podem haver exceรงรตes.
Observe o que dispรตe ao art. 11 do Cรณdigo Civil:
Art. 11 do Cรณdigo Civil: Com exceรงรฃo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade sรฃo intransmissรญveis e irrenunciรกveis, nรฃo podendo o seu exercรญcio sofrer limitaรงรฃo voluntรกria.
Aquele que experimentar algum prejuรญzo ou se ver ameaรงado, poderรก reclamar perdas e danos, alรฉm de exigir que cesse a ameaรงa (art. 12 do CC/02).
Em se tratando de morto, terรก legitimaรงรฃo para requerer a medida prevista neste artigo o cรดnjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral atรฉ o quarto grau (art. 12, parรกgrafo รบnico, do CC/02).
Aliรกs, รฉ preciso lembrar que os direitos da personalidade sรฃo vitalรญcios (e nรฃo perpรฉtuos).
Significa dizer que tais direitos findam com a morte.
Para se aprofundar, recomendamos a leitura.
A disposiรงรฃo do prรณprio corpo รฉ admitida apenas por exigรชncia mรฉdica ou para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial (art. 13 do Cรณdigo Civil e Lei 9434/97).
Como regra, entรฃo, nรฃo se admite a disposiรงรฃo do prรณprio corpo quando:
- Importar diminuiรงรฃo permanente da integridade fรญsica;
- Contrariar os bons costumes.
Repise-se, por oportuno, que poderรก dispor do prรณprio corpo na hipรณtese de exigรชncia mรฉdica ou transplante, vedada a comercializaรงรฃo.
A disposiรงรฃo do prรณprio corpo รฉ considerada direito da personalidade e, portanto, irrenunciรกvel e indisponรญvel, exceto por necessidade mรฉdica ou transplante.
ร interessante observar que o Direito Mรฉdico alterou a estrutura paternalista para o denominado consentimento informado.
O consentimento informado รฉ desdobramento da dignidade da pessoa humana e da capacidade de autodeterminaรงรฃo da pessoa natural.
ร, em apertada sรญntese, a autonomia resguardada ao individuo para decidir sobre questรตes existenciais.
Isso significa que o titular do direito ร integridade fรญsica deixa de ser objeto da prรกtica mรฉdica e passa a ser sujeito de direitos.
Diante do desejo de transplante da doadora, โao Poder Judiciรกrio incumbe tรฃo somente a anรกlise dos requisitos legais para a concessรฃo da autorizaรงรฃo, especialmente, se a doadora รฉ capaz de realizar o ato de forma livre, genuรญna e gratuita, e se foi cumprido o dever de informaรงรฃo pelo mรฉdico acerca dos riscos ร saรบdeโ. (TJ-RJ โ APL: 00210033920198190002, Relator: Des(a). PETERSON BARROSO SIMรO, Data de Julgamento: 17/07/2019, TERCEIRA CรMARA CรVEL)
ร importante lembrar que โninguรฉm pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento mรฉdico ou a intervenรงรฃo cirรบrgicaโ. (art. 15 do CC/02)
Portanto, sem consentimento, nรฃo pode o mรฉdico lanรงar mรฃo de tratamento ou intervenรงรฃo.
Curioso observar que, ainda que exitoso o tratamento mรฉdico, deverรก indenizar, quando nรฃo autorizado o procedimento.
Ainda em relaรงรฃo ao prรณprio corpo, dispรตe o Cรณdigo Civil que รฉ vรกlida, com objetivo cientรญfico, ou altruรญstico, a disposiรงรฃo gratuita do prรณprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo ser revogado a qualquer tempo (art. 14 do CC/02).
O nome, prenome e sobrenome sรฃo protegidos pelo Cรณdigo Civil (art. 16 do CC/02), assim como tambรฉm รฉ protegido o pseudรดnimo (art. 19 do CC/02).
A regra รฉ a imutabilidade do nome.
Contudo, pautado na dignidade da pessoa humana e direito de autodeterminaรงรฃo da pessoa natural, tem se admitido a alteraรงรฃo em alguns casos, tais como divรณrcio, morte do cรดnjuge, dupla nacionalidade e transgรชnero.
Outro direito protegido pela legislaรงรฃo รฉ a imagem.
A imagem publicada sem autorizaรงรฃo e com fins comerciais enseja o direito de reparaรงรฃo, sendo dispensรกvel a prova do prejuรญzo (Sรบmula 403 do STJ).
Mais do que isso.
Segundo o enunciado 278 da IV Jornada de Direito Civil do CJF, โa publicidade que venha a divulgar, sem autorizaรงรฃo, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identificรก-la, constitui violaรงรฃo a direito da personalidadeโ.
A voz humana, por exemplo, tambรฉm tem proteรงรฃo jurรญdica (art. 5ยฐ, XXII, da CF/88 e art. 17 e 29 da Lei 9.610).
Discussรฃo interessante surgiu em relaรงรฃo as bibliografias publicadas sem autorizaรงรฃo prรฉvia.
O tema ensejou o ajuizamento da Aรงรฃo Declaratรณria de Inconstitucionalidade (ADIN 4815) em face dos arts. 20 e 21 do Cรณdigo Civil.
Os arts. 20 e 21 do Cรณdigo Civil, ao menos em tese, abriam espaรงo para proibir a publicaรงรฃo das bibliografias nรฃo autorizadas, desde que comprovado a presenรงa de algum dos requisitos do dispositivo (e.g. finalidade econรดmica, difamaรงรฃo, etc).
Contudo, o Plenรกrio do Supremo Tribunal Federal julgou procedente a Aรงรฃo Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4815 e declarou inexigรญvel a autorizaรงรฃo prรฉvia para a publicaรงรฃo de biografias.
O objetivo da decisรฃo foi preservar os direitos fundamentais da liberdade de expressรฃo da atividade intelectual, artรญstica, cientรญfica e de comunicaรงรฃo, independentemente de censura ou licenรงa de pessoa biografada, relativamente a obras biogrรกficas literรกrias ou audiovisuais (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).
O STJ tambรฉm jรก decidiu que a ampla liberdade de informaรงรฃo, opiniรฃo e crรญtica jornalรญstica reconhecida constitucionalmente ร imprensa nรฃo รฉ um direito absoluto, encontrando limitaรงรตes, tais como a preservaรงรฃo dos direitos da personalidade.