Segundo o art. 156 do CC/02, โconfigura-se o estado de perigo quando alguรฉm, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua famรญlia, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigaรงรฃo excessivamente onerosa.โ
Entรฃo, hรก estado de perigo quando o negรณcio jurรญdico รฉ celebrado com onerosidade excessiva em uma situaรงรฃo em que a parte prejudicada precisava afastar perigo de morte ou grave dano moral.
Para entender melhor o tema, recomendo que assista o vรญdeo (abaixo) que esclarece, de forma didรกtica, o assunto.
A situaรงรฃo de perigo, aqui, atinge:
- a parte prejudicada;
- parente prรณximo;
- conjuge ou companheiro;
- amigo รญntimo (nรฃo familiar).
No caso de amigo รญntimo (nรฃo familiar), assim como ocorre na coaรงรฃo, cabe ao juiz decidir, com base nas circunstรขncias fรกticas se houve ou nรฃo estado de perigo.
Fala-se que, para configurar o estado de perigo, impรตe-se:
- um elemento objetivo (onerosidade excessiva);
- um elemento subjetivo (perigo de morte ou grave dano moral)
A onerosidade excessiva deve ser avaliada no momento em que o negรณcio รฉ celebrado.
Observe que a situaรงรฃo nรฃo se confunde com a coaรงรฃo.
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Enquanto na coaรงรฃo uma pessoa coage alguรฉm, no estado de perigo รฉ como se uma situaรงรฃo coagisse o indivรญduo.
Alรฉm disso, o estado de perigo exige a comprovaรงรฃo do dolo de aproveitamento.
Em outras palavras, รฉ preciso demonstrar que a parte beneficiada tinha ciรชncia da situaรงao de perigo ou grave dano moral.
Comprovado o estado de perigo, poderรก a parte ajuizar aรงรฃo anulatรณria no prazo decadencial de 4 anos, contado da celebraรงรฃo do negรณcio (art. 178, II, CC/02).
O tema, neste particular, รฉ bastante parecido com o erro e o dolo.
Por isso, รฉ interessante repisar que a jurisprudรชncia do STJ nรฃo autoriza a aplicaรงรฃo da teoria do actio nata, segundo a qual o inรญcio do prazo se dรก a partir do conhecimento inequรญvoco da lesรฃo ou violaรงรฃo.
O princรญpio da actio nata tem como objetivo prestigiar a boa-fรฉ, jรก que impede que o titular seja prejudicado por desconhecer a lesรฃo que lhe foi imposta.
Ocorre que, em razรฃo da literalidade do art. 178, II, do Cรณdigo Civil, nรฃo se admite a aplicaรงรฃo.
Para fins didรกticos, cito, abaixo, decisรฃo do STJ que esclarece a posiรงรฃo da corte de forma bastante didรกtica.
โCom efeito, nos termos do art. 178, II, do Cรณdigo Civil, prescreve em 4 (quatro) anos a aรงรฃo para pleitear a anulaรงรฃo de negรณcio jurรญdico por vรญcio de vontade. Desse modo, o termo inicial do prazo decadencial รฉ o dia da celebraรงรฃo do negรณcio ou da prรกtica do ato, e nรฃo a data da ciรชncia do vรญcio ou do alegado prejuรญzo, como entendeu o acรณrdรฃo recorrido, essa disposiรงรฃo, inclusive, jรก estava presente no art. 178, ยง 9ยบ, V, do Cรณdigo Civil/1976, a qual possui entendimento pacรญfico pela jurisprudรชncia desta Corte.โ(STJ โ REsp: 1668587 MG 2017/0100990-8, Relator: Ministro MARCO AURรLIO BELLIZZE, Data de Publicaรงรฃo: DJ 13/11/2017)
Nรฃo obstante a presenรงa do estado de perigo, nรฃo serรก anulado o negรณcio jurรญdico se a parte:
- oferecer-se para reduzir o proveito ou
- complementar o preรงo
Aqui, segundo o Enunciado 148 da III Jornada de Direito Civil do CJF aplica-se, por analogia, a norma direcionada a lesรฃo (art. 157, ยง2ยฐ, do CC/02).
Um exemplo muito comum enunciado pela doutrina รฉ o caso do indivรญduo que, em razรฃo de perigo de morte de parente, assina, junto ao hospital, negรณcio jurรญdico apto e coloca-lo em situaรงรฃo de sรฉria desvantagem econรดmica.
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Estado de Perigo (Direito Civil) – Resumo Completo
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Esse exemplo, contudo, precisa ser observado com certa cautela.
Aliรกs, como regra, a jurisprudรชncia nรฃo tem reconhecido o estado de perigo nessas situaรงรตes.
Cito, a tรญtulo de exemplo, pequeno trecho da decisรฃo do STJ relacionado ao tema:
Atividades empresariais voltadas especificamente para o atendimento de pessoas em condiรงรฃo de perigo iminente, como se dรก com as emergรชncias de hospitais particulares, nรฃo podem ser obrigadas a suportar o รดnus financeiro do tratamento de todos que lรก aportam em situaรงรฃo de risco ร integridade fรญsica, ou mesmo ร vida, pois esse รฉ o pรบblico-alvo desses locais, e a atividade que desenvolvem com fins lucrativos รฉ legรญtima, e detalhadamente regulamentada pelo Poder Pรบblico. Se o nosocรดmio nรฃo exigir, nessas circunstรขncias, nenhuma paga exagerada, ou impor a utilizaรงรฃo de serviรงos nรฃo necessรกrios, ou mesmo garantias extralegais, mas se restringir a cobrar o justo e usual, pelos esforรงos realizados para a manutenรงรฃo da vida, nรฃo hรก defeito no negรณcio jurรญdico que dรช ensejo ร sua anulaรงรฃo. Recurso especial provido.(STJ โ REsp: 1680448 MG 2017/0061174-8, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 22/08/2017, T3 โ TERCEIRA TURMA, Data de Publicaรงรฃo: DJe 29/08/2017)
Portanto, รฉ preciso ter cautela.
Principalmente porque sabemos que, na prรกtica, custos hospitalares costumam ser bastante altos.
Isso significa que o valor solicitado pelo hospital, nรฃo obstante ser aparentemente alto, pode representar contraprestaรงรฃo normal, dada a natureza do contrato.