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ToggleA imputabilidade รฉ um dos elementos da culpabilidade.
Sรฃo elementos da culpabilidade:
- Imputabilidade;
- Exigibilidade de conduta diversa;
- Potencial consciรชncia da ilicitude.
Neste artigo, vou explicar, passo a passo, a imputabilidade.
Imputabilidade decorre de imputar que, por sua vez, significa atribuir responsabilidade.
Por isso, quando falamos em imputabilidade queremos, em verdade, falar de hipรณtese em que pode-se atribuir responsabilidade penal a alguรฉm.
Neste cenรกrio, o imputรกvel รฉ aquele que pode ser objeto dessa imputaรงรฃo/ atribuiรงรฃo.
ร imputรกvel aquele que tem plena capacidade de entender a natureza dos fatos e de se autodeterminar de acordo com esse entendimento.
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Entรฃo, o Inimputรกvel nรฃo รฉ apenas aquele que nรฃo compreendi o mundo a sua volta, mas tambรฉm aquele que, embora compreenda, NรO consegue controlar seus impulsos, tomar decisรตes e se autodeterminar com base na realidade dos fato.
A imputabilidade serรก afastada apenas excepcionalmente.
O cรณdigo penal fala em 3 hipรณteses de inimputabilidade.
- Doenรงa mental (art. 26 do CP);
- Menoridade (art. 27 do CP);
- Embriaguez fortuita (art. 28, ยง 1ยบ, do CP).
ร importante destacar que NรO excluem a imputabilidade a emoรงรฃo e a paixรฃo (art. 28, I, do CP).
Nos prรณximos tรณpicos, vou explicar cada uma das hipรณteses de inimputabilidade tratadas pelo Cรณdigo Penal.
Causas de Inimputabilidade
Doenรงa Mental ou Desenvolvimento Mental Incompleto
O tema รฉ tratado pelo art. 26 do Cรณdigo Penal:
Art. 26 – ร isento de pena o agente que, por doenรงa mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da aรงรฃo ou da omissรฃo, inteiramente incapaz de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redaรงรฃo dada pela Lei nยบ 7.209, de 11.7.1984)
Reduรงรฃo de pena
Parรกgrafo รบnico – A pena pode ser reduzida de um a dois terรงos, se o agente, em virtude de perturbaรงรฃo de saรบde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado nรฃo era inteiramente capaz de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Observe que pouco importa o tipo de doenรงa mental.
Verifica-se, apenas, se tal doenรงa tem aptidรฃo para, ao tempo da aรงรฃo ou omissรฃo, tornar o agente incapaz de entender o carรกter ilรญcito do fato.
O direito penal, em relaรงรฃo ร doenรงa mental, NรO adota um critรฉrio biolรณgico puro.
No Brasil, em relaรงรฃo a doenรงa mental, adota-se o critรฉrio biopsicolรณgico.
Segundo esse critรฉrio, exige-se a cumulaรงรฃo de:
- Critรฉrio biolรณgico: Doenรงa mental ou desenvolvimento mental incompleto/ retardado;
- Critรฉrio psicolรณgico: Durante a aรงรฃo/ omissรฃo, agente nรฃo consegue entender o carรกter ilรญcito do fato ou nรฃo nรฃo consegue se determinar de acordo com esse entendimento.
Entram, aqui, por exemplo, os manรญacos, psicopatas, dependentes quรญmicos, etc.
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Imputabilidade (Direito Penal): Resumo Completo
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A inimputabilidade afasta a culpabilidade e, como consequรชncia, o crime.
Em verdade, o inimputรกvel por doenรงa mental NรO serรก condenado, mas sim absolvido.
A doutrina chama essa absolviรงรฃo de absolviรงรฃo imprรณpria.
O juiz reconhece a inimputabilidade por doenรงa mental e, ato contรญnuo, absolve e aplica a medida de seguranรงa.
Por isso, diante de um fato tรญpico praticado por um indivรญduo nessas condiรงรตes, aplica-se medida de seguranรงa (e nรฃo pena…).
O que fundamenta a medida de seguranรงa nรฃo รฉ a reprovabilidade da conduta (pautada na culpabilidade), mas sim a periculosidade do agente.
Muito embora nรฃo seja pena, a jurisprudรชncia tem defendido que a medida de seguranรงa รฉ espรฉcie de sanรงรฃo penal.
Com base nisso, tem-se entendido que impรตe-se limite mรกximo para sua aplicaรงรฃo.
Para o Supremo Tribunal Federal, a Constituiรงรฃo Federal veda, em verdade, as sanรงรตes penais (e nรฃo apenas as penas…) de carรกcter perpรฉtuo (art. 5ยฐ, XLVII, “b”, da CF).
Para o STF, o limite mรกximo para cumprir a medida de seguranรงa รฉ o mesmo limite para aplicaรงรฃo da pena.
Sobre o tema, observe o que dispรตe o art. 75 do Cรณdigo Penal:
Limite das penas
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade nรฃo pode ser superior a 40 (quarenta) anos.
Em relaรงรฃo a doenรงa mental, hรก ainda o semi-imputรกvel (ou fronteiriรงo).
Existe, aqui, uma perturbaรงรฃo da saรบde mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado e, por isso, hรก parcial capacidade de entendimento ou de determinar-se conforme esse entendimento.
Sobre o tema, o art. 26, parรกgrafo รบnico, esclarece o seguinte:
art. 26 (…)
Reduรงรฃo de pena
Parรกgrafo รบnico – A pena pode ser reduzida de um a dois terรงos, se o agente, em virtude de perturbaรงรฃo de saรบde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado nรฃo era inteiramente capaz de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Portanto, diante da semi-imputabilidade aplica-se a pena com reduรงรฃo de 1/3 a 2/3.
Hรก, portanto, causa de diminuiรงรฃo de pena.
Por fim, รฉ importante destacar que, segundo o art. 96 do Cรณdigo Penal, as medidas de seguranรงa poderรฃo ser de
I – Internaรงรฃo em hospital de custรณdia e tratamento psiquiรกtrico ou, ร falta, em outro estabelecimento adequado;
II – sujeiรงรฃo a tratamento ambulatorial.
Parรกgrafo รบnico – Extinta a punibilidade, nรฃo se impรตe medida de seguranรงa nem subsiste a que tenha sido imposta.
Menoridade
A menoridade รฉ um critรฉrio biolรณgico.
Esse critรฉrio biolรณgico รฉ tambรฉm chamado de critรฉrio cronolรณgico (ou critรฉrio etรกrio).
Sobre o tema, observe o que dispรตe o art. 27 do CP:
Menores de dezoito anos
Art. 27 – Os menores de 18 (dezoito) anos sรฃo penalmente inimputรกveis, ficando sujeitos ร s normas estabelecidas na legislaรงรฃo especial.
Trata-se de PRESUNรรO ABSOLUTA.
O legislador, neste particular, nรฃo se preocupa com anรกlise de cada caso concreto.
Nรฃo se avalia, por exemplo, se o menor foi emancipado ou nรฃo, se sabia o que estava fazendo ou nรฃo, etc.
O menor de 18 anos รฉ, de forma objetiva e absoluta, inimputรกvel.
Diante da inimputabilidade que decorre da presunรงรฃo absoluta, NรO hรก culpa e, como consequรชncia, avaliaรงรฃo da reprovabilidade da conduta do menor.
- Dica: aprofunde seu estudo analisando como o tema foi cobrado na prova da OAB.
Entretanto, o menor pratica fato tรญpico e ilรญcito, sendo, aqui, compreendido como ato infracional.
Aliรกs, o art. 103 do ECA (Estatuto da Crianรงa e do Adolescente) dispรตe o seguinte:
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenรงรฃo penal.
Assim, a medida socioeducativa รฉ compreendida como uma das possรญveis respostas do Estado frente ao ato infracional.
O menor, neste cenรกrio, nรฃo responde por meio de processo penal, mas sim por meio de um processo com previsรฃo no ECA, sendo o Cรณdigo de Processo Penal aplicado apenas subsidiariamente.
Embriaguez Fortuita
Fala-se, aqui, em embriaguez completa proveniente de caso fortuito.
Sobre o tema, o art. 28
art. 28 (…)
ยง 1ยบ – ร isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou forรงa maior, era, ao tempo da aรงรฃo ou da omissรฃo, inteiramente incapaz de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
ร evidente que, como se observa, trata-se de uma hipรณtese especรญfica de embriaguez.
Como consequรชncia, รฉ fรกcil perceber que a exclusรฃo de pena nรฃo ocorre em toda e qualquer espรฉcie de embriaguez.
A embriaguez pode ser compreendida como a alteraรงรฃo psicomotora do agente por meio de รกlcool ou substรขncia de efeitos anรกlogos.
Hรก 5 espรฉcies de embriaguez:
- Embriaguez preordenada;
- Embriaguez voluntรกria (ou dolosa);
- Embriaguez culposa;
- Embriaguez fortuita;
- Embriaguez patolรณgica.
Quando falamos em embriaguez, o Cรณdigo Penal adota a teoria da “actio libera in causa“ que significa aรงรฃo livre na causa.
Isso significa que nรฃo se analisa a liberdade do sujeito no momento da aรงรฃo ou omissรฃo, mas sim no momento da ingestรฃo da substรขncia que altera sua funรงรฃo psicomotora.
Em outras palavras, avalia-se sua liberdade no momento da ingestรฃo do รกlcool ou substรขncia de efeito anรกlogo.
Nรฃo se avalia a liberdade no momento da conduta que enseja o fato tรญpico.
A embriaguez preordenada รฉ aquela realizada intencionalmente para praticar o crime.
O agente, entรฃo, usa a substรขncia para cometer o crime.
A embriaguez preordenada NรO serรก hipรณtese de isenรงรฃo de pena, conforme teoria da actio libera in causa.
Aliรกs, รฉ curioso observar que a embriaguez preordenada, em verdade, รฉ causa agravante de pena, cumpre citar:
Art. 61 – Sรฃo circunstรขncias que sempre agravam a pena, quando nรฃo constituem ou qualificam o crime:
(…)
II – ter o agente cometido o crime:
l) em estado de embriaguez preordenada.
Em paralelo, na embriaguez voluntรกria (ou dolosa) tem-se o indivรญduo que usa รกlcool ou substancia anรกloga com o objetivo de embriagar-se.
Note que, diferente da embriaguez preordenada, o objetivo รฉ embriagar-se (e nรฃo praticar o crime).
Tambรฉm, diferente da embriaguez preordenada, a embriaguez voluntรกria NรO รฉ uma agravante.
- Questรฃo: observe como a OAB cobrou o tema “embriaguez voluntรกria” na prova da OAB:
Alรฉm disso, em razรฃo da teoria da actio libera in causa nรฃo hรก exclusรฃo da culpabilidade
Aqui, inclusive, o Cรณdigo Penal expressamente esclarece o seguinte:
Art. 28 – Nรฃo excluem a imputabilidade penal:
(…)
Embriaguez
II – a embriaguez, voluntรกria ou culposa, pelo รกlcool ou substรขncia de efeitos anรกlogos.
A embriaguez culposa, por sua vez, รฉ aquela em que o agente pretende ingerir รกlcool ou substรขncia anรกloga, mas nรฃo tem a intenรงรฃo de embriagar-se.
ร o caso, por exemplo, do indivรญduo que acredita ser resistente ao รกlcool, mas que, com um copo de cerveja fica completamente embriagado.
Na embriaguez culposa o individuo nรฃo quer embriagar-se ou praticar qualquer crime.
Nessa hipรณtese, tambรฉm em razรฃo da teoria da actio libera in causa, o indivรญduo responderรก pelo crime, pois era livre no momento do uso da substรขncia intencionalmente.
Em outras palavras, o sujeito escolheu usar a substรขncia.
O Cรณdigo Penal destaca, ainda, a embriaguez fortuita.
Observe o que dispรตe o art. 28, ยง 1ยบ, do CP:
Art. 28 (…)
ยง 1ยบ – ร isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou forรงa maior, era, ao tempo da aรงรฃo ou da omissรฃo, inteiramente incapaz de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Neste caso, o agente nรฃo opta por ingerir o รกlcool ou substรขncia de efeitos anรกlogos.
Aliรกs, por isso, nรฃo hรก como sustentar a responsabilizaรงรฃo penal do agente diante da teoria da actio libera in causa.
Nรฃo hรก voluntariedade na ingestรฃo da substรขncia.
A liberdade, aqui, guarda relaรงรฃo com a consciรชncia do que estรก ingerindo, bem como vontade/ intenรงรฃo de ingerir.
Portanto, o agente, ao ingerir a substรขncia deve:
- Ter consciรชncia daquilo que estรก ingerindo;
- Ter vontade/ intenรงรฃo de ingerir.
Na hipรณtese de nรฃo ter consciรชncia ou nรฃo ter vontade de ingerir, fala-se em embriaguez fortuita.
ร preciso, neste caso, diferenciar a:
- Embriaguez fortuita completa;
- Embriaguez fortuita incompleta.
Na primeira, por forรงa da embriaguez, o agente nรฃo consegue entender o carรกter ilรญcito do fato ou nรฃo consegue se determinar de acordo com esse entendimento.
ร o que ocorre, por exemplo, quando alguรฉm, sem chamar a atenรงรฃo, coloca droga na bebida de terceiro.
Na hipรณtese desse terceiro, por exemplo, cometer um acidente de transito, afasta-se a culpabilidade em razรฃo da embriaguez fortuita.
Isso porque, no exemplo, o indivรญduo NรO tem consciรชncia do que estรก, de fato, ingerindo.
Nessa hipรณtese, hรก isenรงรฃo de pena (art. 28, ยง 1ยบ , CP) em razรฃo da exclusรฃo da culpabilidade do agente.
Contudo, NรO hรก exclusรฃo da imputabilidade na hipรณtese da embriaguez fortuita incompleta.
Na embriaguez fortuita incompleta o agente, no momento da aรงรฃo/ omissรฃo, tem parcela de consciรชncia.
Por isso, hรก reprovabilidade da conduta (culpabilidade), mas hรก causa de diminuiรงรฃo de pena.
ร o que dispรตe o art. 28, ยง 2ยบ , do CP:
art. 28 (…)
ยง 2ยบ – A pena pode ser reduzida de um a dois terรงos, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou forรงa maior, nรฃo possuรญa, ao tempo da aรงรฃo ou da omissรฃo, a plena capacidade de entender o carรกter ilรญcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Por fim, a doutrina fala em embriaguez patolรณgica.
Trata-se do vรญcio do รกlcool ou droga, reconhecida como doenรงa mental reconhecida pela OMS (Organizaรงรฃo Mundial da Saรบde).
Nesse caso, pode-se excluir a culpabilidade, nรฃo pela embriaguez, mas sim em razรฃo da doenรงa mental (art. 26 do CP).