Teoria Geral das Provas (Processo Penal): Destinatรกrios, Conceito e Mais.

Podemos iniciar o estudo da teoria geral das provas, no processo penal, pelo conceito de provas.

Provas no processo penal podem ser compreendidas como evidรชncias apresentadas pelas partes envolvidas em um processo criminal, incluindo acusaรงรฃo e defesa, para demonstrar a veracidade dos fatos alegados.

Essas provas podem incluir testemunhos, documentos, perรญcias, objetos, imagens e outras formas de evidรชncias.

O objetivo das provas no processo penal รฉ permitir que o juiz ou o jรบri avalie a credibilidade das alegaรงรตes e determine se o rรฉu รฉ culpado ou inocente.

Em sรญntese, prova รฉ tudo aquilo que รฉ levado aos autos para tentar convencer o magistrado (ou o jรบri) em relaรงรฃo a dinรขmica dos fatos que fazem parte da demanda penal.

ร‰ importante destacar que as provas devem ser produzidas dentro do devido processo legal e respeitando os direitos fundamentais do rรฉu, garantindo um julgamento justo e imparcial.

Alรฉm disso, a anรกlise das provas deve ser feita de forma objetiva e imparcial, sem preconceitos ou influรชncias externas.

Quanto a natureza jurรญdica da prova, defende-se que a prova รฉ direito subjetivo.

Tal direito estรก ligado ao exercรญcio da aรงรฃo ou construรงรฃo da atividade defensiva.

Destinatรกrios da Prova

O destinatรกrio direto/ imediato รฉ o juiz.

Em paralelo, o destinatรกrio indireto/ mediato sรฃo as partes.

Isso porque as provas tรชm a aptidรฃo de legitimar o sistema jurรญdico, pois elas sรฃo uma forma de demonstrar que o processo foi conduzido de forma justa e que a decisรฃo final foi baseada em evidรชncias concretas.

Isso รฉ importante para evitar a vinganรงa privada, ou seja, que as pessoas tomem a justiรงa em suas prรณprias mรฃos e faรงam justiรงa com as prรณprias mรฃos, sem recorrer ao sistema jurรญdico.

Significado de Prova

Hรก divergรชncias na doutrina acerca do conceito de prova e do seu alcance.

A prova pode ser compreendida como o ato de provar, ou seja, a busca pela exatidรฃo entre os elementos utilizados para demonstrar o fato.

Nesse sentido, a prova รฉ vista como um processo que envolve a utilizaรงรฃo de tรฉcnicas e mรฉtodos adequados para a obtenรงรฃo de informaรงรตes precisas e confiรกveis.

Por outro lado, a prova pode ser compreendida tambรฉm como o meio probatรณrio utilizado para produzir a prova pretendida.

Nessa perspectiva, a prova รฉ entendida como um conjunto de instrumentos empregados para demonstrar a veracidade dos fatos alegados, como documentos, testemunhas, perรญcias, entre outros.

Alรฉm disso, a prova tambรฉm pode ser compreendida como o resultado da aรงรฃo de provar, ou seja, o convencimento da autoridade judicante acerca da veracidade dos fatos alegados pelas partes.

Nessa visรฃo, a prova รฉ vista como um elemento subjetivo, pois depende da anรกlise e interpretaรงรฃo dos elementos probatรณrios pelo magistrado responsรกvel pela decisรฃo final.

Portanto, em sรญntese, a prova pode ser compreendida como:

  1. Ato de provar: exatidรฃo entre elementos empregados para a demonstraรงรฃo do fato;
  2. Meio probatรณrio: รฉ o instrumento empregado para produzir a prova pretendida;
  3. Resultado da aรงรฃo de provar: convencimento da autoridade judicante.

Objeto da Prova

No รขmbito do processo penal, รฉ crucial compreender a distinรงรฃo entre o objeto da prova e o objeto de prova.

Essa diferenciaรงรฃo รฉ fundamental para garantir um julgamento justo e conforme ร  legislaรงรฃo vigente.

Objeto da prova refere-se aos elementos que sรฃo relevantes para o processo e que precisam ser demonstrados para se chegar ร  verdade dos fatos.

Esses elementos podem ser a materialidade do crime (ou seja, a comprovaรงรฃo de que o crime realmente ocorreu), a autoria (identificar quem cometeu o crime), as circunstรขncias, os motivos, entre outros.

O objetivo principal รฉ estabelecer uma base sรณlida para a decisรฃo do juiz, que deve ser pautada na busca pela verdade real.

Jรก o objeto de prova guarda relaรงรฃo com a pertinรชncia da prova.

Deve-se, na prรกtica, provar tudo o que o legislador determina.

A parte estรก dispensada de provar:

  1. Direito Federal;
  2. Fatos Notรณrios (acontecimento amplamente conhecido e indiscutรญvel pela sociedade);
  3. Fatos Axiomรกticos ou intuitivos (fatos evidentes);
  4. Presunรงรตes (inferรชncia ou conclusรฃo estabelecida por lei ou pelo juiz, em que se considera um fato como verdadeiro a partir de outro fato comprovado).

A parte, em contrapartida, deverรก comprovar a existรชncia e vigรชncia de eventual direito estadual, municipal e, inclusive, consuetudinรกrio.

Tambรฉm deverรก comprovar fatos controvertidos.

Hรก 2 modalidades de presunรงรฃo:

  1. Presunรงรฃo absoluta (juris et de jure): Sรฃo presunรงรตes estabelecidas por lei e nรฃo admitem prova em contrรกrio. Ou seja, o fato presumido รฉ considerado verdadeiro, independentemente de qualquer evidรชncia contrรกria. Essas presunรงรตes sรฃo raras e aplicadas apenas em situaรงรตes especรญficas previstas em lei (e.g. inimputabilidade do menor de 18 anos);
  2. Presunรงรฃo relativa (juris tantum): Sรฃo presunรงรตes que admitem prova em contrรกrio. Nesses casos, a lei estabelece que, diante de determinado fato comprovado, se presume outro fato. No entanto, essa presunรงรฃo pode ser afastada se houver provas suficientes que demonstrem o contrรกrio. Na prรกtica, a presunรงรฃo relativa inverte o รดnus da prova.

A doutrina fala, tambรฉm, em presunรงรฃo hominis.

Trata-se de inferรชncias ou conclusรตes feitas por um julgador (juiz, desembargador, ministro) com base em seu conhecimento e experiรชncia pessoal sobre a vida e o comportamento humano.

Meios de Prova

A prova poderรก ser nominada (quando elencada na lei) ou inominada (quando nรฃo elencada na lei).

Os meios de prova podem ser compreendidos como ferramentas empregadas para produzir a prova com o objetivo de levar ao conhecimento do juiz.

Existem diversas formas de classificar as provas.

A primeira delas รฉ a classificaรงรฃo das provas em razรฃo da regulaรงรฃo do meio.

Nesse particular, as provas podem ser:

  1. Nominada: prova elencada em lei;
  2. Inominada: prova nรฃo elencada em lei.

ร‰ importante destacar que nรฃo hรก hierarquia entre provas nominadas e provas inominadas.

Observe que permite-se o amplo uso de provas, dado que o processo penal admite o uso de provas inominadas.

Isso ocorre em razรฃo do princรญpio da liberdade na produรงรฃo probatรณria.

Segundo esse princรญpio, assegura-se a ampla produรงรฃo probatรณria e, neste cenรกrio, admite-se provas nominadas e inominadas, todas com mesma hierarquia legal.

Tambรฉm รฉ fundamento que autoriza o amplo uso das provas o princรญpio da verdade real (ou verdade material).

Segundo esse princรญpio, o principal objetivo do processo รฉ a busca pela verdade sobre os fatos relacionados ao crime em questรฃo.

Aliรกs, o art. 156 do Cรณdigo de Processo Penal admite essa iniciativa, de ofรญcio, por parte do juiz:

Art. 156.  A prova da alegaรงรฃo incumbirรก a quem a fizer, sendo, porรฉm, facultado ao juiz de ofรญcio:

I โ€“ ordenar, mesmo antes de iniciada a aรงรฃo penal, a produรงรฃo antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequaรงรฃo e proporcionalidade da medida;

II โ€“ determinar, no curso da instruรงรฃo, ou antes de proferir sentenรงa, a realizaรงรฃo de diligรชncias para dirimir dรบvida sobre ponto relevante.

Diferentemente do princรญpio da verdade formal, que se baseia na observaรงรฃo estrita das provas e dos procedimentos legais, o princรญpio da verdade real busca compreender a realidade dos fatos de maneira mais completa e aprofundada, mesmo que isso signifique ir alรฉm das provas e argumentos apresentados pelas partes.

Na prรกtica, a verdade real acabou fundamentando a iniciativa de obtenรงรฃo de prova por parte do juiz.

Isso ensejou inรบmeras crรญticas por parte da doutrina, dado que o juiz que produz prova viola o sistema acusatรณrio.

Para doutrina, deve-se buscar, na prรกtica, a verdade processual (e nรฃo verdade real).

A verdade processual รฉ a busca de verdade possรญvel sempre com base no contraditรณrio, ampla defesa, devido processo legal, imparcialidade do juiz e paridade de armas.

Ainda dentro do contexto da liberdade de produรงรฃo de provas, รฉ preciso destacar, existem algumas limitaรงรตes importantes.

Sรฃo elas:

  1. Demonstraรงรฃo do estado civil das pessoas (art. 155, parรกgrafo รบnico, do CPP);
  2. Prova Ilรญcita;

O estado civil deverรก ser comprovado por meio da respectiva certidรฃo.

ร‰ o que determina o parรกgrafo รบnico do art. 155 do CPP:

Art. 155.  O juiz formarรก sua convicรงรฃo pela livre apreciaรงรฃo da prova produzida em contraditรณrio judicial, nรฃo podendo fundamentar sua decisรฃo exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigaรงรฃo, ressalvadas as provas cautelares, nรฃo repetรญveis e antecipadas.

Parรกgrafo รบnico. Somente quanto ao estado das pessoas serรฃo observadas as restriรงรตes estabelecidas na lei civil.

Neste cenรกrio, a sรบmula 74 do STJ impรตe documento idรดneo para demonstrar a menoridade.

Sรบmula 74 do STJ – Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do rรฉu requer prova por documento hรกbil.

Alรฉm disso, tambรฉm รฉ vedado a parte produzir prova ilรญcita.

Vou falar sobre o tema no prรณximo tรณpico.

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